“Não existe forma de mudar um ponto isolado do comportamento, se esse ponto for significativo e a mudança for definitiva. Temos de mudar o padrão em que esse ponto do comportamento toma parte.”
— Ernst G. Beier
Vencer a Batalha
Nesta fase, a chave passa por substituir o seu mau hábito com um novo estilo de vida. Os terapeutas profissionais chamam-lhe manutenção.
O contra-ataque, a técnica que estudámos na fase 4, é o primeiro passo deste processo. Promover novos hábitos é crucial para o seu sucesso. Se você eliminar apenas o mau hábito, estará condenado a uma vida de luta contra a tentação de voltar atrás.
As pessoas que estão presas nesta fase voltariam de bom grado ao seu antigo estilo de vida, se a ciência de repente lhes desse provas que o seu mau hábito não tinha efeitos prejudiciais. Se fossem inventados cigarros seguros, que de alguma forma satisfizessem o desejo de nicotina de um fumador sem lhe causar cancro, enfisema e doenças cardíacas, os ex-fumadores que nunca passaram esta fase comprariam desses cigarros aos camiões.
Nesta fase, você terá de fazer um grande esforço para evitar uma recaída. Como referi no último capítulo, eu não estava pronto para deixar de fumar quando cheguei à minha data estabelecida. Pensei que podia desistir passando alguma ressaca e que eliminava o mau hábito apenas com a força de vontade. Estava enganado. O meu erro não levou a que eu desistisse, como acontece muitas vezes com as pessoas que se apercebem que apenas a força de vontade, por si só, não chega.
Agora compreendo que fiz duas coisas acertadas que foram a chave para o meu sucesso: em primeiro lugar, entrei numa fase de preparação que durou cerca de um mês. Em segundo lugar, não me culpei por ter tido recaídas.
As pesquisas demonstraram que estes dois factores são chaves essenciais para eliminar qualquer mau hábito. Nessa altura, eu não sabia que estas técnicas tinham fundamento científico. Simplesmente utilizei-as como parte do meu esforço “tentativa-erro” para desistir, e o senso comum disse-me que elas eram a forma certa de atacar o meu problema.
Tive muitas falhas durante aquele mês. Não foi uma recaída: eu ainda estava na fase de preparação, consolidando o meu compromisso para deixar de fumar. Contudo, existiram muitas falhas. Quase todos os dias, eu acabava por comprar um maço de cigarros, fumava um, e deitava o resto do maço fora, completamente enjoado.
As falhas, assim como as recaídas, ensinam-lhe que a verdadeira mudança custa mais do que você pensou, em termos de tempo, esforço e dinheiro. As minhas falhas ensinaram-me que eu precisava de fazer um compromisso mais sério para preparar a minha mudança de estilo de vida. Uma das coisas mais importantes que fiz durante este período foi comprar os novos equipamentos para a minha equipa de basquetebol.
Aplicar o seu dinheiro nas suas novas escolhas ajuda a que se mantenha concentrado no objectivo da sua mudança de estilo de vida. Ao fazer isto, eu começava a pensar mais em estar em forma no basquetebol do que em tentar deixar de fumar.
Compreendi também uma outra coisa importante após as minhas falhas. De cada vez que falhava, sentia-me desgostoso. Mas não me sentia culpado nem me recriminava por não ser forte o suficiente para cumprir a minha palavra. Há uma enorme diferença.
Sentia-me desgostoso porque estava a deixar que o mau hábito me controlasse. De cada vez que deitava fora o maço de cigarros praticamente cheio, provava a mim mesmo que conseguia controlar o hábito. Em vez de me sentir culpado, sentia-me livre e poderoso de cada vez que escolhia deitar fora aqueles dezanove cigarros que permaneciam no maço que eu tinha acabado de comprar. Se eu escolhia fazer aquilo, podia primeiro escolher não comprar o maço de cigarros.
Alguns maus hábitos requerem um tempo de vida de manutenção? Até mesmo os peritos se dividem quanto a esta questão. Os Alcoólicos Anónimos ensinam os seus membros que esta fase dura enquanto eles permanecerem vivos. Eu acredito que é possível libertarmo-nos dos maus hábitos para sempre. Acredito nisso porque o fiz, e milhões de outras pessoas também já o fizeram.
Uma coisa é certa: os programas que prometem uma mudança fácil ou arranjos rápidos fracassam porque ignoram a fase 5. As pessoas que fazem dieta e que voltam a ganhar o peso que perderam por seguirem a última moda são vítimas de programas que ignoram a necessidade de uma mudança total do estilo de vida. No final, é claro, são vítimas do seu próprio pensamento e expectativa. Aprendem da pior forma que uma mudança definitiva não pode ser feita sem um esforço sério da sua parte.
As pessoas na fase 5 ainda não mudaram o seu estilo de vida. Ainda estão a trabalhar para o mudar. Para algumas pessoas, a luta pode efectivamente durar toda a vida; outras passam rapidamente esta fase e libertam-se do problema para sempre.
O que leva as pessoas a recair?
Os investigadores identificaram as três principais causas da recaída:
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Excesso de confiança: O ex-alcoólico que diz, “Eu aguento uma bebida”, está claramente na fase 5. Como qualquer pessoa nos AA sabe, o excesso de confiança é a causa número um de recaídas entre os seus membros.
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Tentação diária: Um homem que luta contra o vício da pornografia não pode ir a uma sala de cinema ver um filme classificado como sendo desse género, e pedir a Deus forças para não olhar para o ecran. As pessoas na fase 4 ainda se sentem tentadas. O sucesso depende de eliminar as tentações diárias da sua vida. Não é possível eliminar todas as tentações, como é claro. É por esse motivo que você precisa de dominar as técnicas de contra-ataque referidas na fase 4.
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Culpa e auto-recriminação: Dizer a si próprio que você não é forte o suficiente para eliminar os seus maus hábitos desencadeia uma recaída. Faz parte da prisão verbal as pessoas desencadearem mecanismos para evitarem a responsabilidade pelas suas escolhas.
A mudança profunda tem de estar associada a uma nova forma de vida.
As pesquisas demonstram que uma dieta é bem sucedida quando é combinada com uma alimentação mais saudável e exercício físico. A maioria de nós não precisa de conhecer as conclusões das pesquisas para acreditar nisto: vemos as provas da mudança todos os dias da nossa vida, nas nossas vidas e nas vidas das pessoas que nos são próximas.
Normalmente, o primeiro sinal de perigo para uma pessoa que faz dieta não é comer demasiado, mas enfraquecer o seu compromisso com um novo estilo de vida. Essa pessoa pára de ir ao ginásio. Quando se senta à frente da televisão em vez de ir fazer exercício, ela está apenas a um passo de ir buscar uma grande taça de gelado.
Muitos ginásios e centros de fitness têm paredes espelhadas. Quando essa pessoa for ao ginásio novamente, será lembrada da necessidade de continuar a trabalhar num estilo de vida mais saudável. Mas se ela parar de ir ao ginásio definitivamente, a falha irá tornar-se numa recaída total.
A pressão social ainda é perigosa na fase 4. Tanto quanto possível, os ex-fumadores devem manter-se afastados de ambientes onde as pessoas fumem, e as pessoas que fazem dieta devem manter-se longe de ambientes onde se coma muito. É por esse motivo que as férias são uma das ocasiões mais difíceis de começar uma dieta. Estabelecer uma data que coincida com a época do Natal é uma parvoíce. Faz muito mais sentido começar a sua dieta após o Ano Novo.
As decisões de Ano Novo não falham porque são feitas no Ano Novo; elas falham porque as pessoas saltam para elas sem terem progredido através das fases anteriores. Como aprendi com a minha experiência, não é possível passar a uma fase de acção de forma bem sucedida sem passar antes pela fase de preparação.
Muitas pessoas tomam decisões de Ano Novo depois de acordarem de ressaca – ou de terem ganho mais cinco quilos – na manhã do dia 1 de Janeiro. Não fizeram a preparação necessária para terem uma hipótese de serem bem sucedidas. Não é de admirar que muitas pessoas voltem ao seu antigo comportamento antes de acabar o mês de Janeiro.
Quando tiver uma recaída, aprenda com ela e siga em frente.
Esta é a parte da espiral em que muitas pessoas vão antes de saírem do ciclo para sempre. Você não tem de recomeçar logo depois de ter escorregado. Muitas pessoas abandonam o ciclo por completo por se recriminarem e se sentirem culpadas depois de uma recaída.
A minha experiência ensinou-me duas importantes lições: (1) Uma falha não é sempre uma recaída; e (2) a culpa e a auto-recriminação não ajudam. Se eu tivesse deixado que a culpa me atingisse quando falhei, provavelmente teria entrado numa recaída total, e poderia ter levado outros cinco anos antes de estar preparado a comprometer-me seriamente em deixar de fumar.
Pode levar anos até conseguir determinar o seu mau hábito. Se pensa que pode eliminá-lo em apenas alguns dias ou semanas, está a entrar no caminho do fracasso.